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Sem Efeitos Colaterais: Neurofeedback no tratamento da Enxaqueca - entrevista com Dra.Aline Castagnetti e Dra.Fernanda Felisberto

  • Foto do escritor: Telix
    Telix
  • 27 de out.
  • 17 min de leitura

Atualizado: 30 de out.

Laura: Você já ouviu falar de neurofeedback? Sabia que ele pode ser um grande aliado nas nossas crises de enxaqueca? Por isso, eu convidei hoje para estar aqui comigo duas neuropsicólogas que vão falar mais sobre isso conosco aqui no Telix. O nome delas é Aline Castignete e Fernanda Felisberto.

Eu estava estudando para conversar com vocês hoje e estou muito feliz que vocês aceitaram o convite. Essa técnica existe há mais de 30 anos, mas aqui no Brasil ainda é recente. Gostaria que vocês explicassem como funciona uma sessão de neurofeedback e como as pessoas com enxaqueca podem se beneficiar desse tratamento.



Aline: Perfeito! O neurofeedback é uma técnica que chamamos de autorregulação cerebral. É feita por meio de um biofeedback, utilizando esse equipamento que está aqui atrás da gente, com alguns eletrodos conectados a uma touca colocada na cabeça do paciente.

A partir dessa técnica, conseguimos fazer um mapeamento de como está atualmente o cérebro do paciente, por meio de um EEG, sendo uma eletroencefalografia. Com base nesse mapeamento, montamos um protocolo específico para cada paciente.

Depois disso, ele vem para as sessões, e colocamos um estímulo na TV, que pode ser um jogo, um filme ou uma série, algo prazeroso, que ele goste. O próprio sistema gera um reforçamento positivo quando o paciente alcança algumas metas que estabelecemos. Isso acontece, por exemplo, através da opacidade da tela, que fica mais clara ou mais escura.

Assim, o paciente entende que está atingindo ou não as metas, e nós vamos ajustando esses pontos ao longo das sessões.


Laura: Que legal! Então ele é um estímulo na tela, e você monta esse protocolo conforme a especificidade de cada paciente. Pode ser, então, algo prazeroso, que depende de cada pessoa, já que cada uma tem um tipo de estímulo. Você monta a partir da motivação de cada paciente, sendo diferente para cada pessoa.

Que legal! E o que você considera na hora de estruturar um protocolo? Vi que o protocolo é algo que varia muito. O paciente se adequa, mas você demora quanto tempo, mais ou menos, para fazer essa escolha? É na primeira sessão mesmo ou ao decorrer das sessões?


Fernanda: Bom, a gente inicia primeiro com uma anamnese com o paciente. Nessa etapa, vamos entender qual é a queixa, o que ele deseja melhorar e quais são seus objetivos com o treino de neurofeedback.

Depois, fazemos um mapeamento cerebral, como a Aline mencionou. Nesse mapeamento, conseguimos compreender como funciona o cérebro do paciente. A partir daí, unimos ambas as informações: o mapeamento cerebral, que mostra o funcionamento do cérebro, e a queixa ou demanda que o paciente traz.

Com isso, montamos um protocolo personalizado para cada pessoa. Cada paciente tem o seu próprio treino, não existe um modelo padrão. Todos os treinos são adaptados individualmente.

Aline: No caso de pacientes com enxaqueca, por exemplo, o mapeamento nos permite identificar pontos no EEG que apresentam alterações. Com base nisso e nas queixas trazidas pelo paciente, realizamos o treinamento de forma mais funcional, focando em áreas específicas de regulação emocional, especialmente para pacientes com enxaqueca.


Laura: Então, como funciona essa anamnese? Preciso levar alguma coisa na primeira consulta? Já devo ter procurado identificar os meus gatilhos e levado esse diário para vocês, para munir vocês de informações, correto?


Fernanda: Acho que o ideal é que o paciente já nos traga qual é a sua demanda, a sua queixa e o que ele percebe como seus gatilhos. Mas, de forma geral, nós mesmas fazemos essas perguntas para buscar e alcançar essas informações, a fim de montar o protocolo personalizado, como mencionamos.

Quando o paciente traz essas informações, o trabalho fica mais fácil e a anamnese é facilitada. Mas, caso ele não traga, nós conseguimos obter tudo por meio das perguntas que já temos estruturadas em uma anamnese pronta para coletar essas informações.


 Aline: É importante também lembrar que o paciente pode nos informar se usa alguma medicação específica para algum transtorno de saúde mental ou física, porque isso pode influenciar de alguma forma. Precisamos saber se ele faz um diário de dor, como você mencionou, registrando a frequência e a intensidade dessas dores, pois isso com certeza nos auxilia.

Também é importante saber se ele tem outras queixas associadas, como é a rotina e o trabalho dele, e se percebe que existe algum ambiente ou situação que ative mais a enxaqueca, por exemplo. Tudo isso ajuda na montagem do protocolo individual de cada paciente.


Laura: Que legal! E quantas sessões, mais ou menos, eu já posso começar a sentir uma melhora? E quanto tempo duram as sessões? Fiquei curiosa.

Aline: Então, nós costumamos dizer que, para começar a perceber uma melhora significativa e a eficácia do neurofeedback, isso geralmente ocorre por volta da oitava sessão. A partir daí, conseguimos observar mais claramente essas melhoras.

É importante lembrar que o paciente também precisa ter consciência de como ele chega até nós, desenvolver essa autopercepção de como está no início, como se sente durante o tratamento e quais eram suas expectativas, para depois perceber o quanto mudou ao final. Muitas vezes, os próprios familiares e pessoas próximas também relatam essas mudanças.

De forma geral, os resultados começam a ser mais perceptíveis a partir da oitava sessão. Hoje, trabalhamos com protocolos de 30 a 40 sessões, mas isso depende muito do que cada paciente está buscando.


Laura: O neurofeedback é um tratamento complementar ao medicamentoso, ou ele consegue obter bons resultados mesmo sem o uso de medicamentos?


Fernanda: Então, o neurofeedback pode ser um complemento à medicação, mas também pode ser introduzido como um tratamento autônomo. Isso depende da necessidade do paciente, do nível das queixas, do grau das dificuldades e dos problemas que ele nos traz.

Muitas vezes, o paciente chega utilizando medicação e, ao longo do treino, essa medicação vai sendo reduzida ou até retirada, sempre com o acompanhamento médico, é claro.

De forma geral, o neurofeedback pode funcionar tanto como um tratamento autônomo quanto como um complemento. Vai depender muito de cada caso. A gente costuma dizer que, no neurofeedback, não existem padrões fixos. Tudo é muito personalizado, e cada paciente responde de um jeito. Funcionando para um pode ser bem diferente para outro.

Laura: Que legal! Eu, particularmente, detesto tomar remédio. Resisto até o último grau da dor para conseguir sucumbir e tomar o medicamento, porque tenho muito receio de ficar refém. Tenho parentes na minha família que são muito dependentes, então adoto esse estilo de não recorrer facilmente ao uso de medicamentos.

Então, eu posso ter o neurofeedback como uma alternativa, e também utilizá-lo junto ao remédio, ou até mesmo para um desmame, para não ficar totalmente dependente. Interessante, ótimo!

E como vocês se sentem trabalhando com essa abordagem que ainda não é muito reconhecida no Brasil?


Fernanda: Quando a gente iniciou a nossa formação em neurofeedback, ficamos encantadas com os benefícios e com a forma como a técnica funciona. Mas esse também é um desafio para nós: como levar essa informação para as pessoas.

Muitas vezes, quando explicamos o que é o neurofeedback e o que ele faz, as pessoas ficam desconfiadas. Elas perguntam: “Mas como assim? Como assim vou mudar o meu cérebro?” As pessoas ainda ficam um pouco preocupadas com isso.

Esse é o grande desafio para a gente, algo que temos tentado levar cada vez mais ao público, divulgando esse conhecimento. Acredito que seja um desafio a ser enfrentado, e quando conversamos com outras pessoas que também trabalham com neurofeedback no Brasil, percebemos que elas sentem a mesma dificuldade, porque é algo muito novo por aqui. Acho que é um desafio para gente, né, Aline?


Aline: Sim, apesar de já existirem muitos estudos e uma base científica e bibliográfica bem ampla, o neurofeedback ainda é pouco divulgado. É algo que consideramos inovador, porque realmente funciona e traz ótimos resultados, mas poucas pessoas ainda conhecem essa funcionalidade da técnica em si.


Laura: Gente, funciona mesmo!Como vocês sabem, o Telix é uma plataforma baseada em evidências, e o motivo de termos incluído a neuromodulação no nosso site é justamente porque existem bases científicas que comprovam que ela realmente traz melhora.

Acho muito interessante que, na nossa plataforma, tudo tem base científica e funciona!Que bom que vocês estão trabalhando com isso, nessa parte de psicoeducação.Quando a gente traz um tratamento novo, até ele chegar ao paciente ideal que está procurando, existe todo um trabalho de divulgação e de familiarização.As pessoas que experimentam e podem dizer “olha, eu melhorei” são fundamentais nesse processo.

Que bom que vocês trouxeram isso para a cidade de vocês!Tomara que chegue logo na minha também, porque acredito que muitas pessoas vão se beneficiar dessa terapia.

E me contem uma coisa: quem é o paciente que vocês recomendam para o neurofeedback?Existe alguma faixa etária específica?Eu sei que tem a ver com neuroplasticidade, então, por exemplo, uma pessoa idosa e uma criança vão ter desenvolvimentos diferentes?


Aline: Então, todas as pessoas podem fazer, desde a infância até a idade idosa. Todas são indicadas, mas há uma recomendação de que as crianças iniciem o tratamento a partir dos cinco anos de idade, porque antes disso o cérebro ainda é muito imaturo e está em processo de estruturação.

A partir dos cinco anos, já conseguimos fazer o mapeamento, com algumas ressalvas e acompanhamento adequado. Hoje em dia, como temos diagnósticos precoces de vários transtornos de saúde mental, conseguimos iniciar o acompanhamento desde cedo.

As funções e os objetivos mudam conforme a fase da vida. Crianças, por exemplo, podem procurar o neurofeedback para tratar autismo, TDAH ou dificuldades nas funções executivas. Já os idosos podem trabalhar questões relacionadas ao declínio cognitivo, buscando prevenir ou retardar esse processo.

São demandas diferentes em cada fase, com queixas distintas, mas sim, é possível trabalhar com todas as idades.

Laura: E assim, por acaso tem algo que eu possa fazer em casa para potencializar os resultados das minhas sessões de neurofeedback?

Aline: Nós costumamos dizer que é um conjunto que funciona melhor quando o corpo, de forma geral, está regulado. Por isso, sempre indicamos aos nossos pacientes que mantenham uma boa higiene do sono, que tenham um sono de qualidade e respeitem os horários de descanso, de preferência. Também orientamos que pratiquem exercícios físicos e mantenham uma boa alimentação.

Sempre reforçamos que isso já seria o básico para garantir bem-estar e uma saúde melhor. Tudo isso, aliado ao neurofeedback, faz com que a técnica funcione muito melhor e o corpo se regule de forma mais eficiente.


Fernanda: É como se fosse um potencializador da técnica. Tudo isso que a Aline falou, ter momentos de pausa, descanso, conseguir relaxar e desacelerar, faz com que a gente consiga potencializar os resultados do neurofeedback.


Laura: Eu acho que todo mundo que já passou por uma noite mal dormida e, no outro dia, teve que trabalhar e lidar com demandas, sabe o quanto o sono é importante. E como funciona o neurofeedback voltado para o sono? Nos bastidores, você comentou que trabalha com isso. Me conta um pouco sobre como funcionaria, porque o sono influencia muito os pacientes que sofrem com enxaqueca.


Fernanda: Então, vou falar um pouquinho da minha experiência pessoal. Quando iniciei meu protocolo de treinamento em neurofeedback, eu tinha uma filha bebê, e estava passando por um período de muita privação de sono. Queria melhorar isso para conseguir relaxar mais e dormir com qualidade.

No início do treino, eu sentia muito sono, realmente muito sono, e percebi que precisava ajustar minha rotina. Passei a dormir mais cedo, comecei a praticar higiene do sono e a dedicar mais horas ao descanso, porque, depois das sessões de neurofeedback, eu ficava com muito cansaço, como se tivesse trabalhado o dia inteiro.

Com o tempo, fui percebendo que precisava mudar alguns hábitos. Ao ajustar minha rotina e aumentar minhas horas de sono, tudo foi se equilibrando, podemos dizer assim.


Laura: Então, vocês comentaram que fazem o eletroencefalograma. Ele é realizado antes do paciente iniciar o tratamento? E, por exemplo, vocês também fazem depois das 30 sessões para ver se houve alguma mudança? Como é que funciona esse exame?

Fernanda: A gente começa fazendo o mapeamento cerebral, como eu comentei, para identificar como está o funcionamento do cérebro. Depois, montamos o protocolo de treino e iniciamos com o paciente.

Conforme o paciente vai evoluindo, vamos percebendo as mudanças e fazemos reavaliações. Normalmente, realizamos uma na metade do tratamento, por volta da 15ª ou 20ª sessão, e outra no final. Gostamos de mostrar para o paciente as áreas que foram mudando e, quando ele relata algum sintoma, vamos cruzando essas informações e conversando sobre isso.

Quando necessário, ajustamos o treino. Então, fazemos o mapeamento no início, no meio e no fim. Não é algo que todas as pessoas que trabalham com neurofeedback necessariamente fazem, porque não é uma obrigação do protocolo, mas nós gostamos de fazer assim. Dessa forma, conseguimos acompanhar melhor as mudanças e a evolução de cada paciente.


Aline: É bacana comentar que esses remapeamentos, feitos de forma intermediária e final durante o tratamento, geram imagens. Mas não se trata exatamente de um comparativo entre imagens, porque nós costumamos chamar isso de “bagunça boa”. Muitas vezes, para o paciente melhorar, é preciso reorganizar algumas questões relacionadas à autorregulação cerebral.

Por isso, nós medimos a melhora não apenas pelas imagens geradas nesses remapeamentos, mas principalmente pelos sintomas que o paciente apresenta de melhora. Claro que o mapeamento nos fornece informações importantes, tanto para o paciente compreender melhor o processo quanto para nós ajustarmos os treinos. Mas a real medida do progresso vem também pela fala e pelos relatos do próprio paciente.


Laura: Qual que é o intervalo de uma sessão para outra?

Fernanda: A gente normalmente faz com os nossos pacientes duas vezes na semana. Pode ser, por exemplo, segunda e terça, ou terça e quarta. O importante é que não seja no mesmo dia e também que o paciente não esteja muito cansado.

Ah, vou fazer lá às oito da noite, por exemplo. A pessoa, às vezes, já vai estar com sono, já vai estar mais cansada. Isso acaba influenciando nas metas.

Então a gente gosta de conversar com os pacientes para eles estarem descansados e sem utilizar cafeína ou outros estimulantes antes do treino.

Mas, de forma geral, a gente sempre orienta os pacientes nesse sentido: fazer uma sessão em um dia e a outra sessão no outro, para ter esse espaço.


Aline: E dura geralmente dependendo de cada protocolo e do que a gente quer alcançar nesses treinamentos. Porque, quando a gente fala em treinamento, nós não vamos trabalhar só ansiedade.

Vamos supor: nós vamos trabalhar ansiedade junto com as questões de sono em um protocolo. Em enxaqueca, trabalhamos enxaqueca e regulação emocional em outro. Então, nós podemos ter vários protocolos.

Geralmente são de dois a três, e nós vamos alternando esses protocolos. As sessões costumam durar em torno de trinta a quarenta minutos a uma hora, dependendo do que a gente quer trabalhar com esse paciente.


Laura: E, meninas, me contem mais sobre a experiência de vocês. Falando um pouco da trajetória profissional, vocês já tinham outra abordagem antes? O que levou vocês a escolherem o neurofeedback como especialidade?

Fernanda: Eu sou psicóloga clínica, trabalho com terapia cognitivo-comportamental, tenho pós também em neuropsicologia e formação em neurofeedback, que eu fiz depois.

Quando eu pensei em fazer o neurofeedback foi porque eu trabalhava em uma clínica, e uma das pessoas que trabalhavam lá atuava com neurofeedback. Ela me contava das melhoras dos pacientes, me orientava, conversava comigo nesse sentido. Eu fiquei curiosa sobre o neurofeedback, fui estudar mais algumas coisas e, quando comecei a atender aqui na Clínica Personalité, a Aline falava do neurofeedback, que era algo que interessava a ela também.

Então fomos nós juntas fazer a formação em neurofeedback, porque era algo que somava nos atendimentos e nos tratamentos dos pacientes. A gente buscou o neurofeedback nesse sentido de poder proporcionar algo a mais para os pacientes.

Sem contar que é algo que tem embasamento científico, que realmente permite ver a mudança e a melhora , não só no sentido de autorregulação, mas muitas vezes na retirada de medicação. A gente sabe que há pessoas que são resistentes à medicação ou que até ficam dependentes dela. Isso era uma preocupação nossa também.

Foi então que decidimos fazer a formação em neurofeedback para conseguir trazer esse algo a mais para os pacientes.


Aline: Uhum, eu também sou psicóloga. Na verdade, nós temos formações bem parecidas: terapia cognitivo-comportamental, terapia do esquema e neurofeedback.

Foi algo que, como a Fer falou, iria agregar. Nós gostamos de nos desafiar também, para poder trazer mais eficácia para o paciente.

O neurofeedback vem justamente como essa tecnologia de ponta que gera resultados. Às vezes, pacientes mais resistentes não respondem muito bem à terapia convencional, mas ao neurofeedback, sim. Então, são outras opções.


Laura: Então, agora eu quero fazer uma explicação. As pessoas mais jovens já entendem a importância de ter um acompanhamento psicológico, de buscar terapias, às vezes até para as crianças desde cedo. Mas o público mais velho ainda tem uma certa resistência.

Eu falo isso porque penso no meu pai. Quando eu precisei, ainda adolescente, ir ao psicólogo, ele já ficou assim: “Meu Deus, mas o que tem de errado com a minha filha?”

O que eu explicaria para um pai como esse, que já paga o psicólogo para o filho,  vamos supor que seja uma abordagem psicanalítica, sobre o motivo de ele também precisar fazer terapia?Por que o neurofeedback seria uma outra abordagem importante?Por que esse pai também deveria investir nessa terapia?Expliquem, por favor, como uma coisa não tem nada a ver com a outra.


Fernanda: O neurofeedback não fica sobre a terapia, por exemplo, ele não substitui a terapia. Podem ser complementos, assim como a terapia também não substitui o neurofeedback.

Juntos, eles vão atuar para potencializar os resultados. O neurofeedback atua mais em um nível fisiológico mesmo, enquanto a terapia atua no cognitivo, no comportamental, nas emoções e nos sentimentos.

Juntos, eles potencializam o tratamento, seja de uma criança, de um adulto ou de um idoso. É realmente para potencializar esse processo, para buscar a melhora que o paciente espera e também precisa, complementando.


Aline: É bem pontuado por ti. Nós usamos o exemplo de que o medicamento vai trabalhar de maneira química no nosso cérebro, gerando algumas respostas. O neurofeedback trabalha de forma elétrica, e as questões da terapia são justamente esses treinamentos, essas modificações que tu faz com base cognitiva e comportamental, além da questão das emoções também.

São diferentes formas de alcançar resultados, mas que se complementam entre si sempre que necessário.


Laura: Sim, ele tem que buscar uma abordagem integrativa, uma está relacionada com a outra. E como vocês imaginam o futuro do neurofeedback na prática clínica? Vocês acham que ainda está bem no começo? Existe muita procura por formação nessa área, nos grupos que vocês participam? Pelo que eu entendi, vários profissionais da TCC estão indo para essa área para complementar a prática clínica, certo?


Fernanda: Eu acho que, como tu falou, muitos da TCC vão para complementar a área clínica porque tem esse embasamento científico. Quem busca TCC gosta muito dessa parte científica.

Falando do neurofeedback, com o avanço da tecnologia e também da inteligência artificial, a tendência, e o que a gente espera é que o futuro seja promissor e que, cada vez mais, os treinos se tornem personalizados. Isso é possível com o avanço e a integração das tecnologias.

Os treinos vão ser mais personalizados e os pacientes vão conseguir, cada vez mais, ter recursos para que consigam não só atuar nos tratamentos, mas também na prevenção.

É isso que a gente espera: que cada vez mais o neurofeedback se integre nas questões de saúde mental, para que se trabalhe também na prevenção. Eu acho que é isso que a gente visa.


Aline: O mercado hoje é voltado para as tecnologias em saúde, especificamente, e tem crescido muito.

Se a gente observa o cenário de forma geral, as tecnologias estão crescendo e avançando muito rápido, e nas tecnologias em saúde não é diferente. Nós acreditamos que essas atualizações são importantes, porque, como tu mesma falou, o neurofeedback é uma das técnicas de neuromodulação. Existem várias outras, com outras funções e outras formas de ajudar os pacientes também.

Cada vez mais, as questões tecnológicas vão avançando, e nós, como pessoas que gostam de desafios, acreditamos muito que a tecnologia vai vir para auxiliar os tratamentos de forma geral.


Laura: E na prática clínica de vocês, vocês já atenderam alguém que sofria de enxaqueca e que vocês acompanharam o caso? O neurofeedback ajudou? Podem me contar um pouco sobre isso? Fiquei curiosa.



Aline: A Fê me olhou porque eu sou a pessoa da enxaqueca. Nós fazemos protocolos, nós nos treinamos, nós fazemos os acompanhamentos. Eu faço na Fernanda e a Fernanda faz em mim.

Os protocolos são bem estruturados, bem pensados, justamente para essa melhora sintomatológica, principalmente nas questões de intensidade de dor relacionadas à enxaqueca. Elas estão muito ligadas à questão de um relaxamento físico, por exemplo, que essa reorganização cerebral por meio do neurofeedback ajuda.

Questões de regulação têm a ver com o sistema nervoso central. Para a pessoa que tem enxaqueca, a luz incomoda muito, assim como o ruído e o som. Às vezes nem precisa ser uma luz muito forte ou um som muito alto, mas quando o paciente está em crise de enxaqueca, isso acaba incomodando bastante.

Os protocolos são pensados para essas situações. No meu caso especificamente, eu já fiz cerca de vinte e poucas sessões, né, Fê, e já visualizei muitas melhoras com relação a isso.


Laura: Nossa, que legal ouvir isso! E você percebeu melhora na diminuição da dor ou no intervalo entre as crises que te acometiam?


Aline: Eu, especialmente, senti diferença na intensidade da dor. Tinha muitos dias seguidos em que nem medicações específicas para dor conseguiam controlar.

Pensando que enxaqueca é uma dor crônica, uma questão neurológica, nem as medicações conseguiam dar conta. O neurofeedback auxiliou muito nesse processo de intensidade da dor no meu caso.


Laura: Que legal, que bom ouvir isso! Olha só, gente, para quem sofre de enxaqueca, procurem na cidade de vocês ou, se forem de Criciúma, procurem a clínica das meninas. Como é mesmo o nome? Personalité, né? A clínica de vocês atende com neurofeedback, e acredito que também para TDAH, certo? Quais outras condições mais chegam na clínica de vocês?


Aline: Nós tratamos uma gama muito grande de transtornos mentais, e não só transtornos mentais. Depressão, ansiedade, fibromialgia e questões relacionadas a dores crônicas também estão entre eles.

Depende muito da queixa do paciente. Às vezes, pacientes mais jovens, adolescentes e crianças vêm com queixas relacionadas a déficit de atenção e hiperatividade ou autismo em diferentes níveis. Claro que precisa ser observado até que ponto o paciente, no caso de pacientes autistas, consegue se beneficiar e realizar o tratamento.

É uma gama gigantesca de transtornos, não só de saúde mental, mas também de cunho físico.

Laura: Que legal, que legal! Olha só, gente, então tem saída! Vocês têm algum conselho para quem sofre de enxaqueca, mas o remédio já não está sendo muito eficaz? A pessoa já conseguiu ajustar um pouco a rotina, está dormindo bem, ajeitou a dieta, mas mesmo assim não está conseguindo espaçar as crises, e a dor está ficando difícil, atrapalhando o dia a dia. Vocês têm algum conselho?


Fernanda: Eu acho que é importante ouvir o seu corpo e cuidar de você. Muitos estímulos e estresse elevado vão ser gatilhos para crises. Procurar momentos de relaxamento para desacelerar é essencial. Esse ajuste da rotina é bem importante.

De repente, vale a pena rever essa rotina, ajustar um pouco mais e ter momentos em que você consiga parar. A gente sabe que a sociedade hoje está sempre correndo, com muitas funções, muitas tarefas e muitas coisas para fazer. Então, procure ter esses momentos para desacelerar mesmo, para conseguir ficar parado, por mais difícil que seja, e ter esses espaços de pausa.

Procure tratamentos que vão te beneficiar nesse sentido. O neurofeedback pode ser uma alternativa, assim como a psicoterapia também ajuda bastante. O neurofeedback vai agir mais no fisiológico, então você vai conseguir se autorregular. Com a terapia, por exemplo, vai conseguir adquirir autoconhecimento para entender qual é o seu limite.

Com o neurofeedback, você consegue diminuir as crises e a intensidade delas. Com o autoconhecimento, consegue evitar a crise, porque, quando está chegando no limite, você consegue parar.

Procure alternativas e ouça o seu corpo. Preste atenção em você.


Aline: Isso, perfeito. A Fê traz essa questão de apresentar o neurofeedback e a psicoterapia como complementares. Ela fala também sobre aprender outras coisas que a psicoterapia, por exemplo, traz com técnicas bem específicas.

A terapia cognitivo-comportamental, em especial, que é a nossa abordagem, ajuda a evitar esse estresse que acaba gerando a dor física, que é a enxaqueca. Técnicas de respiração diafragmática, por exemplo, e técnicas de mindfulness, que consistem em conseguir parar e prestar atenção no que está acontecendo agora, ajudam a evitar muitos desses gatilhos que podem acontecer.

Por isso, as duas funcionam tão bem juntas.


Laura: Sim, lembrar que a pessoa não está sozinha. Antigamente, quem sofria de enxaqueca, poxa vida, sofria calada, sem saber que isso era um transtorno tão recorrente e que principalmente acomete muitas mulheres no período menstrual.

Cada dia mais eu aprendo sobre essa doença e vejo o quanto ela é silenciosa. Quem sofre, muitas vezes, tem medo de expressar a dor por achar que pode incomodar o outro, e as pessoas ao redor nem sempre têm noção do que é estar com dor o tempo todo.

É importante também buscar terapia, porque é a primeira vez de todo mundo aqui. Ninguém nasce sabendo lidar com todas as demandas emocionais de uma vida que está em constante mudança.

Que bom saber que vocês trouxeram essa abordagem e foram pioneiras. Acredito que, na cidade de vocês, foram uma das primeiras, buscaram formação fora e agora estão trazendo isso para os pacientes. Meus parabéns. Que bom que foram corajosas, se desafiaram, saíram da zona de conforto, foram buscar formação e hoje, por meio do ofício de vocês, levam evidência científica para a melhora dos pacientes com enxaqueca.

Bom, eu queria agradecer e dizer que, gente, olha só como os avanços da tecnologia estão. Hoje a gente pode modular o nosso cérebro com ciência e segurança, dentro de uma clínica, seguindo um protocolo estruturado, com profissionais que estão ali sessão por sessão, fazendo um acompanhamento personalizado e sem efeito colateral.

Pra quem busca uma via que não seja medicamentosa e tem medo de ficar dependente, isso veio muito a calhar. E que bom que a gente pode compartilhar isso com as pessoas e mostrar que sim, é possível. É só questão de informação.

Então, pessoal aqui do Telix, vocês estão sempre atualizados sobre o que há de mais novo. Hoje o foco é enxaqueca, mas no futuro a gente vai expandir para outras doenças. Fico muito feliz por ter recebido vocês aqui hoje. Muito obrigada pelo tempo de vocês, e quero receber vocês em breve para falarmos sobre outros tratamentos que podemos abordar, talvez mais voltados à TCC. Aqui fica aberto pra vocês voltarem, tá bom, meninas?


Fernanda: Obrigada ao Telix e a ti  Laura

por abrir espaço pra nós podermos também compartilhar informação e conhecimento que a gente tem adquirido, muito obrigado

Aline: obrigada.

Laura: E quem se interessou, os @ das meninas vão ficar postados na nossa live, tá bom? Sigam elas, estão sempre compartilhando dicas no Instagram. Sigam também a clínica. Muito obrigada, meninas, foi um prazer!

Aline e Fernanda: tchau tchau!


Laura: tchau tchau!




 
 
 

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